Misericórdia! - 2 Samuel 11.6-13

______________________

"Então, enviou Davi mensageiros a Joabe, dizendo: Manda-me Urias, o heteu. Joabe enviou Urias a Davi. Vindo, pois, Urias a Davi, perguntou este como passava Joabe, como se achava o povo e como ia a guerra. Depois, disse Davi a Urias: Desce a tua casa e lava os pés. Saindo Urias da casa real, logo se lhe seguiu um presente do rei. Porém, Urias se deitou à porta da casa real, com todos os servos do seu senhor, e não desceu a sua casa. Então, disse Davi a Urias: Não vens tu de uma jornada? Por que não desceste a tua casa? Respondeu Urias a Davi: A arca, Israel e Judá ficam em tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao ar livre; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber e para me deitar com minha mulher? Tão certo como tu vives e como vive a tua alma, não farei tal coisa. Então, disse Davi a Urias: Demora-te aqui ainda hoje, e amanhã te despedirei. Urias, pois ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. Davi o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou; à tarde, saiu Urias a deitar-se na sua cama, com os servos de seu senhor; porém não desceu a sua cama." (2 Samuel 11.6-13)
___________________________________________________

Introdução: Muitos conhecem a história do adultério entre Davi e Bate-Seba, mulher que era casada com um dos soldados do exército de Israel chamado Urias. Para aqueles que não entendem muito bem a história nós começamos o capítulo 11 do segundo livro do profeta Samuel sendo informados que aquele tempo era um tempo de guerra, e no tempo de guerra os reis saiam à guerra com os seus exércitos. Sabemos de Davi que este era um guerreiro nato, e durante muito tempo ele foi o comandante do exército de Israel enquanto a nação estava ainda sob o reinado de Saul. Mas naquele momento Davi não foi ao campo de batalha, ficou em seu palácio em Jerusalém, e pulando um pouco os detalhes e pormenores do adultério cometido por ele, o que sabemos é que este adultério teve como consequência uma gravidez de Bate-Seba. As guerras não são eventos breves, muitas se arrastam por anos, ou até mesmo décadas. Urias já estava fora de casa há algum tempo, tempo o suficiente para que todos soubessem que o filho não poderia ser dele, algo que deixaria Davi em uma situação constrangedora, pois o seu adultério que era mantido em segredo, seria exposto diante da nação, e lhe renderia consequências públicas de seu ato. Então para encobrir seu pecado, e a gravidez de Bate-Seba, Davi elaborou um plano, que consistia em trazer Urias do campo de batalha com as desculpas de que queria notícias da guerra. Então, faria Urias ir para sua casa, se deitar com sua mulher, e então todos iriam imaginar que a criança no ventre de Bate-Seba seria dele. E é exatamente neste encontro entre Davi e Urias que nós paramos. Nesta história, observamos que Davi não teve misericórdia de Urias. E embora essa seja uma passagem bíblica conhecida por causa do pecado de Davi, pouco de nota na atitude de Urias seu exemplo de homem misericordioso. E me atrevo a dizer, parafraseando o relato do autor do livro de Hebreus a respeito de Abel, que Urias mesmo depois de morto, ainda fala, e eis aí o legado de Urias, que ainda hoje nos ensina sobre misericórdia.
Mas antes de falarmos sobre misericórdia, se faz necessário entendermos o que é misericórdia. A palavra misericórdia vem do latim, e deriva de duas outras palavras: Miserere ou Miseratio (sentir compaixão); e Cor ou Cordis (coração), que seria como "ter compaixão do coração", ou seja, nada mais é do que um sentimento de compaixão despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. A Pequena Enciclopédia Bíblica, de Orland Spencer Boyer, define assim o termo: "Sentimento doloroso causado pela miséria de outrem". Ou seja, é a capacidade de sentir a dor do outro, de se colocar em seu lugar. Esse sentimento tem o poder de produzir em nós o desejo de fazer alguma coisa que possa amenizar o sofrimento do próximo, ou pelo menos demonstrar para ele que você é solidário no seu sofrimento. E é exatamente essa imagem de misericórdia que vemos retratada na atitude de Urias. E a partir do momento em que tomamos conhecimento do que é misericórdia, talvez possamos começar a nos lançar na busca pela compreensão da misericórdia demonstrada por Deus para com a humanidade. Urias é apenas um dos muitos exemplos de misericórdia que a bíblia nos traz, mas para compreender toda a extensão da misericórdia, se faz necessário olhar primeiro para o exemplo maior de misericórdia, a misericórdia de Deus.

1 - A misericórdia de Deus

Aprendemos ao estudar a palavra de Deus, e nas classes de estudo bíblico, que um dos atributos morais, ou comunicáveis, de Deus, é a misericórdia. Deus é misericordioso, grande em misericórdia como declara a sua palavra: "Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e grande em misericórdia e em verdade" (Sl 86.15, ARA). Mas de quem o Senhor tem misericórdia? Quem é o alvo de sua compaixão? O homem! E ao declarar o homem, me refiro a toda a humanidade, e sim, me refiro a mim e a você, a jovens, crianças, adultos, anciãos, mulheres, a todos sem exceção. Mas depois de compreendermos o que significa misericórdia, que é se compadecer da miséria do outro, e tomarmos conhecimento que Deus tem misericórdia de nós, isso pode fazer surgir a seguinte pergunta: Nós somos miseráveis? E qual é a nossa miséria? Entendendo que miséria é a falta daquilo que se necessita, ou seja, é um estado de penúria, de aflição, somos completamente miseráveis, pois somos carentes de Deus, e de tudo aquilo que Ele nos proporciona. Mas nem sempre foi assim, o motivo da miséria do homem tem nome, e se chama PECADO! Em Romanos 3.23 o apóstolo Paulo expõe essa realidade: "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (ARA).
Nós frequentemente somos levados a menosprezar os efeitos do que chamamos de queda do homem, ou pecado original, que foi o pecado de Adão. Pois pensamos que se seguirmos a risca um conjunto de padrões morais, ou regras, onde não se deseja o mal de ninguém, não se faz nada que seja considerado errado, e ajudamos a todos quanto podemos ajudar, que isso possa nos garantir o favor de Deus. Não! Pelo contrário, isso demonstra a nossa ignorância quanto a nosso estado já pecador. Esse inclusive era o erro principal cometido pelo grupo religioso judeu chamado de fariseus, motivo pelo qual Jesus certa ocasião os chamou de sepulcros caiados (cf. Mt 23.27). Não foi apenas Adão que caiu diante do pecado, e nem mesmo apenas os homens, mas toda a criação foi afetada por ele, por esse motivo todo o mundo sofre por causa do pecado, para onde se olha se vê as consequências da natureza pecaminosa instalada no mundo por causa da queda do homem, como disse Paulo: "Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação" (Rm 5.18, ARA). Por isso vivemos em um mundo caído: "Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno" (1 Jo 5.19, ARA); e "...No mundo, passais por aflições..." (Jo 16.33b, ARA). Até mesmo o próprio relacionamento do homem com a criação foi abalado pelo pecado: "Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. E a Adão disse: Viste que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás." (Gn 3.14-19, ARA). Então podemos ver claramente que o pecado de Adão não afetou a ele somente, mas a todos nós, e recaiu sobre nós também as suas consequências, dentre as quais, a ausência do relacionamento com o Criador, por isso ao ser confrontado com a visão de Deus: "Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" (Is 6.5, ARA). Ou seja, como disse anteriormente, somos seres caídos, vivendo em um mundo caído, rodeado pelo pecado à nossa volta, e também dentro de nós.
Eis a nossa miséria, a nossa falta de Deus. Eis aí o motivo da misericórdia de Deus por nós, pois Ele percebeu nossa completa incapacidade de tomar a iniciativa da reconciliação com Ele, e também para pedir o perdão pelos nossos pecados de uma maneira que satisfaça a sua lei. Deus não ficou no "discurso", Ele agiu, e sua resposta de misericórdia ao mundo, foi se fazer carne e habitar entre nós, foi sentir na pele as nossas necessidades, dores, aflições, e o preço de nossos pecados. Ele se colocou em nosso lugar, Jesus Cristo, é a MISERICÓRDIA de Deus sobre nós. Devemos ser gratos a misericórdia de Deus sobre nós, pois elas são as causas de não sermos consumidos pela santa ira de Deus em resposta ao pecado que há em nós, mas suas misericórdias se renovam a cada manhã e não tem fim, pois duram para sempre. (cf. Lm 3.22)
Nós somos alvos da misericórdia de Deus, mas Deus nos concedeu também a capacidade de sermos misericordiosos, e Ele quer que o sejamos. 

2 - A misericórdia entre nós

A misericórdia é um dos atributos divinos que Deus compartilha com os homens. Ou seja, Ele nos dotou com a capacidade de amar o próximo e de sentir em nós um pouco da dor do outro. Esse sentimento pode receber outros nomes, como: compaixão, empatia, e etc. E esse sentimento gera, ou pelo menos deveria gerar, em nós, o desejo de fazer algo pelo próximo. E para que a misericórdia seja verdadeira, o desejo que nos toma, que nos invade, deve ser transformado em ações. Foi o que fez Urias ao dormir ao relento, junto aos portões do palácio de Davi, recusando-se a ir para sua casa. No verso 11, do segundo livro do profeta Samuel, capítulo 11, Urias declara ao Rei o porquê não queria ir para sua casa, desfrutar de sua comodidade e da companhia de sua mulher: MISERICÓRDIA! Misericórdia para com o Senhor Deus, pela Arca da Aliança, a manifestação da presença do soberano do universo, que permanecia sob as tendas do tabernáculo. Isso deveria implicar em uma lição direta para Davi, que era rei apenas sobre Israel, e dormia em seus palácios. Misericórdia também, para com os seus companheiros de guerra, pois ele esteve acompanhando de perto o sacrifício de tais homens, que deixavam suas casas, a companhia de suas mulheres, para dormir ao relento e darem suas vidas para a proteção de seu povo, seu rei, e sua terra. E eis exatamente aí uma enorme diferença de atitude entre a misericórdia de Urias e o pecado de Davi, pois enquanto seus soldados não tinham um teto sobre as suas cabeças, Davi estava em seus aposentos reais, e Urias ensina ao rei o que é se compadecer do próximo. Mas o exemplo mais gritante dessa disparidade entre os dois, se dá ao perceber que Urias se recusa a estar com sua mulher, algo que lhe é de direito, por amor e misericórdia de seus companheiros de batalha, suas esposas e famílias, pois o mesmo não se considerava digno de se dar a esse "luxo"; e enquanto isso, nós vemos a Davi, que não apenas já possuia várias mulheres, entre esposas e concubinas, a sua disposição, mas foi se deitar exatamente com a esposa de um de seus soldados. Misericórdia!
Eis o quão perigoso o pecado pode ser, transformando um homem, seus pensamentos, desejos e atitudes. O quão vil Davi se tornou, o quão baixo chegou, eis aí o rei e adorador Davi, adulterando com a esposa de seu súdito, e maquinando contra ele. O rei Davi já estava completamente dominado pelo pecado, suas atitudes de adultério são apenas a execução do que já existia em seu coração, e é exatamente assim que o pecado começa: "Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte." (Tg 1.13-15, ARA). Esse mesmo preceito, a respeito do pecado se inicia bem antes de sua manifestação externa, que são as atitudes consumadas, são ensinados por Jesus Cristo no famoso Sermão do Monte (cf. Mt 5). Naquele momento o rei Davi estava como Caim, antes de tirar a vida de seu irmão Abel, quando o Senhor lhe alertou do que acontecia em seu coração: "...Se todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo." (Gn 4.7b, ARA). Mas não quero me deter olhando para o pecado de Davi, mas para o exemplo de Urias.
Jesus no sermão do monte declarou: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia." (Mt 5.7, ARA), e é da vontade de Deus que, nós, o seu povo, sua igreja, tenhamos misericórdia de nosso próximo: "Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai." (Lc 6.36, ARA). E é este princípio que está embutido no resumo que Jesus faz da Lei em Mateus 22.39, ao dizer: "...Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (ARA). E ainda no livro de Mateus, Jesus reforça a necessidade de manifestarmos misericórdia, pois esta é uma das características do salvo, ele é misericordioso. Portanto Jesus declara: "Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estive nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? e Quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." (Mt 25.34-40, ARA). E aqui está um bom aspecto para se identificar um cristão verdadeiro, pois sua vida é marcada pelo seu espírito misericordioso.
Agora é preciso fazer um alerta à igreja. Muitos imaginam que exercer misericórdia é apenas se mobilizar para satisfazer as necessidade humanas, quanto a fome, vestimenta, saúde e outras tantas que acompanham o escopo de obras sociais da igreja. Mas há um ponto que por muitas vezes nos passa despercebido, e é a gritante necessidade que o homem tem de Deus, sua miséria espiritual. Eis aí um dos maiores pecados que muitos de nós temos cometido como igreja, a omissão: "Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando." (Tg 4.17, ARA). A igreja recebeu a misericórdia de Deus sobre ela, fomos feitos possuidores do antídoto para esse veneno chamado pecado, e enquanto o estado deplorável, escabroso, mórbido, de sofrimento das almas agonizantes nas mãos do diabo não nos causarem dor, vergonha, tristeza, compaixão e misericórdia, não somos dignos de sermos chamados igreja. Enquanto o mal cheiro do pecado não nos causar nojo, do próprio pecado, de nosso estado miserável, e do pecado que nos rodeia, não estaremos dispostos a apresentar, ou mesmo reconhecer, a Cristo e seu sangue purificador. Enquanto a dor do próximo não for a nossa também, não haverá misericórdia para nós. Matar a fome dando-lhe comida é importante, e absolutamente necessário, mas deixá-lo ir embora de estômago cheio e miserável espiritualmente é covardia, uma atitude de hipocrisia. Jesus retrata na famosa parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10.25-37), a hipocrisia do sacerdote e do levita, os religiosos da história contada, mas que ignoram o estado deplorável do caído, passando de largo. O samaritano, resolveu ajudar, sem esperar nada em troca, simplesmente pelo prazer de ver o outro bem, de sentir a dor do outro. Mas atar-lhe as feridas do corpo e deixar sua alma ir para o inferno é condenável, por isso a aplicação de tal parábola é muito mais profunda do que simplesmente tratar as feridas do corpo. Somos atalaias, como declarou o profeta Ezequiel (cf. Ez 33), e é nossa responsabilidade alertar ao pecador sobre sua miséria, sobre sua necessidade de receber a misericórdia de Deus (Jesus Cristo) sobre sua vida, pois esta é a sua ÚNICA saída para sua miséria, e consequentemente, sua saída para a condenação espiritual. Então sejamos misericordiosos, e cumpramos a palavra que diz: "Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram." (Rm 12.15, ARA).

Conclusão: Jesus em duas ocasiões desafia os judeus a entenderem o que de fato significa: "Misericórdia quero e não sacrifícios" (cf. Mt 9.13, 12.7). Estas palavras de Jesus são uma referência direta ao profeta Oséias (Os. 6.6). E o profeta não deixa dúvida alguma sobre o que ele está falando. Oséias se refere a conversões, ou seja, arrependimentos falsos, súplicas e clamores hipócritas, que não passavam de pura encenação para satisfazer nossa própria justiça. E isso é representado pelas figuras dos sacrifícios e holocaustos, que se tratavam de um ritual cerimonial religioso estabelecido na época de Moisés. Mas como todos os demais aspectos cerimoniais da Lei, não tinham um fim em si mesmo, mas eram representações de Cristo e sua obra redentora na cruz, o sacrifício perfeito. Como os sacrifícios e holocaustos eram representações de cerimoniais públicos, eles representavam a real intenção do coração dos hipócritas, serem reconhecidos pelos homens e não por Deus. Jesus esclarece isso na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18.9-14). Portanto, embora eles fossem rigorosos em todos os aspectos referentes aos mínimos detalhes da letra da Lei, seus corações, mentes e línguas ainda destilavam pecado. 
A misericórdia a que o texto se refere, é sentir aquilo que entristece ao Senhor, e colocar nosso coração para buscar sentir o que há em nós que desagrada a Deus, ou seja, é como olhar para um espelho e ver refletido nele a real imagem de nosso estado miserável, e sermos confrontados com o pecado que há em nós, e sentirmos quão grande é a tristeza do Deus santo por nós pecadores. É o que o próprio Davi expressou no Salmo 51, onde ele derrama todo o seu ser na presença de Deus suplicando-lhe o perdão exatamente pelo pecado cometido contra Deus, e contra Urias. E enquanto não confrontarmos nossos pecados, não haverá arrependimento em nós, e enquanto não manifestarmos misericórdia pelo estado pecador de nosso próximo, o caráter de Cristo não está em nós, e não haverá misericórdia para nós. Se você quer saber o que é o inferno, é a total ausência da misericórdia de Deus sobre nós, e o despejar do cálice puro, sem mistura, de sua santa IRA (cf. Ap 14). Que Deus tenha misericórdia de nós, e que nós sejamos misericordiosos!

Pr. Julio Cezar da S. Cindra

Já está no blog o devocional desta semana!

  Clique aqui para ler agora!

Aprenda a interpretar a Bíblia!