2022 vem aí, e nós voltamos as atividades!


 . : : SEJAM BEM-VINDOS DE VOLTA! : : .

Este blog foi criado em 2013 para servir como um acervo digital do conteúdo criado pelo autor, ou de conteúdos reproduzidos, e de materiais de referência. Porém, em virtude do aumento de outras atividades que demandaram tempo, o blog acabou ficando com cada vez menos atenção. Porém, o trabalho de produção de conteúdo não parou. Há muito material acumulado ao longo destes anos, e que serão adicionados ao conteúdo do blog.

E vem novidades por aí! 

As publicações de mensagens e estudo bíblicos serão semanais. Todos os sábados terá um conteúdo original de mensagens, e/ou estudo bíblico.

E agora teremos também as páginas de conteúdo, que podem ser acessadas pelo menu no cabeçalho do Blog.

Na página: Sobre o Autor, você conhecerá um pouco do autor deste Blog, o pastor Julio Cezar Cindra. E também estas novidades do blog estarão fixadas nesta página.

Na página: Devocional Semanal, serão publicados devocionais autorais, e reproduções, todas as segundas-feiras, para começarmos a semana abençoados!

Na página: Editorial Mensal, toda primeira quarta-feira de cada mês, será publicado um conteúdo de opinião sobre temas diversos, mas que tenham impacto sobre as questões bíblico-teológicas!

Na página: Regional Semanal, toda segunda-feira serão publicados notícias, eventos, materiais que falem da região, ou que aconteçam na região de São Francisco de Itabapoana/RJ, e que tenham a ver com o conteúdo deste blog. Será um lugar para divulgar programações de igrejas de nossa região!

Por fim, na página: Dica do Mês, toda terceira quarta-feira de cada mês, será divulgado um livro que componha a biblioteca do autor deste blog, ou que ele recomenda. Quando a dica que estiver vigente deixar a página para a divulgação de uma nova dica, ela será adicionada na página inicial, e você poderá encontrá-las no marcador Biblioteca, no menu lateral!

Sejam todos bem-vindos "de volta" ao blog Memórias Teológicas!

Pr. Julio Cezar da S. Cindra

Misericórdia! - 2 Samuel 11.6-13

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"Então, enviou Davi mensageiros a Joabe, dizendo: Manda-me Urias, o heteu. Joabe enviou Urias a Davi. Vindo, pois, Urias a Davi, perguntou este como passava Joabe, como se achava o povo e como ia a guerra. Depois, disse Davi a Urias: Desce a tua casa e lava os pés. Saindo Urias da casa real, logo se lhe seguiu um presente do rei. Porém, Urias se deitou à porta da casa real, com todos os servos do seu senhor, e não desceu a sua casa. Então, disse Davi a Urias: Não vens tu de uma jornada? Por que não desceste a tua casa? Respondeu Urias a Davi: A arca, Israel e Judá ficam em tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao ar livre; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber e para me deitar com minha mulher? Tão certo como tu vives e como vive a tua alma, não farei tal coisa. Então, disse Davi a Urias: Demora-te aqui ainda hoje, e amanhã te despedirei. Urias, pois ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. Davi o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou; à tarde, saiu Urias a deitar-se na sua cama, com os servos de seu senhor; porém não desceu a sua cama." (2 Samuel 11.6-13)
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Introdução: Muitos conhecem a história do adultério entre Davi e Bate-Seba, mulher que era casada com um dos soldados do exército de Israel chamado Urias. Para aqueles que não entendem muito bem a história nós começamos o capítulo 11 do segundo livro do profeta Samuel sendo informados que aquele tempo era um tempo de guerra, e no tempo de guerra os reis saiam à guerra com os seus exércitos. Sabemos de Davi que este era um guerreiro nato, e durante muito tempo ele foi o comandante do exército de Israel enquanto a nação estava ainda sob o reinado de Saul. Mas naquele momento Davi não foi ao campo de batalha, ficou em seu palácio em Jerusalém, e pulando um pouco os detalhes e pormenores do adultério cometido por ele, o que sabemos é que este adultério teve como consequência uma gravidez de Bate-Seba. As guerras não são eventos breves, muitas se arrastam por anos, ou até mesmo décadas. Urias já estava fora de casa há algum tempo, tempo o suficiente para que todos soubessem que o filho não poderia ser dele, algo que deixaria Davi em uma situação constrangedora, pois o seu adultério que era mantido em segredo, seria exposto diante da nação, e lhe renderia consequências públicas de seu ato. Então para encobrir seu pecado, e a gravidez de Bate-Seba, Davi elaborou um plano, que consistia em trazer Urias do campo de batalha com as desculpas de que queria notícias da guerra. Então, faria Urias ir para sua casa, se deitar com sua mulher, e então todos iriam imaginar que a criança no ventre de Bate-Seba seria dele. E é exatamente neste encontro entre Davi e Urias que nós paramos. Nesta história, observamos que Davi não teve misericórdia de Urias. E embora essa seja uma passagem bíblica conhecida por causa do pecado de Davi, pouco de nota na atitude de Urias seu exemplo de homem misericordioso. E me atrevo a dizer, parafraseando o relato do autor do livro de Hebreus a respeito de Abel, que Urias mesmo depois de morto, ainda fala, e eis aí o legado de Urias, que ainda hoje nos ensina sobre misericórdia.
Mas antes de falarmos sobre misericórdia, se faz necessário entendermos o que é misericórdia. A palavra misericórdia vem do latim, e deriva de duas outras palavras: Miserere ou Miseratio (sentir compaixão); e Cor ou Cordis (coração), que seria como "ter compaixão do coração", ou seja, nada mais é do que um sentimento de compaixão despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. A Pequena Enciclopédia Bíblica, de Orland Spencer Boyer, define assim o termo: "Sentimento doloroso causado pela miséria de outrem". Ou seja, é a capacidade de sentir a dor do outro, de se colocar em seu lugar. Esse sentimento tem o poder de produzir em nós o desejo de fazer alguma coisa que possa amenizar o sofrimento do próximo, ou pelo menos demonstrar para ele que você é solidário no seu sofrimento. E é exatamente essa imagem de misericórdia que vemos retratada na atitude de Urias. E a partir do momento em que tomamos conhecimento do que é misericórdia, talvez possamos começar a nos lançar na busca pela compreensão da misericórdia demonstrada por Deus para com a humanidade. Urias é apenas um dos muitos exemplos de misericórdia que a bíblia nos traz, mas para compreender toda a extensão da misericórdia, se faz necessário olhar primeiro para o exemplo maior de misericórdia, a misericórdia de Deus.

1 - A misericórdia de Deus

Aprendemos ao estudar a palavra de Deus, e nas classes de estudo bíblico, que um dos atributos morais, ou comunicáveis, de Deus, é a misericórdia. Deus é misericordioso, grande em misericórdia como declara a sua palavra: "Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e grande em misericórdia e em verdade" (Sl 86.15, ARA). Mas de quem o Senhor tem misericórdia? Quem é o alvo de sua compaixão? O homem! E ao declarar o homem, me refiro a toda a humanidade, e sim, me refiro a mim e a você, a jovens, crianças, adultos, anciãos, mulheres, a todos sem exceção. Mas depois de compreendermos o que significa misericórdia, que é se compadecer da miséria do outro, e tomarmos conhecimento que Deus tem misericórdia de nós, isso pode fazer surgir a seguinte pergunta: Nós somos miseráveis? E qual é a nossa miséria? Entendendo que miséria é a falta daquilo que se necessita, ou seja, é um estado de penúria, de aflição, somos completamente miseráveis, pois somos carentes de Deus, e de tudo aquilo que Ele nos proporciona. Mas nem sempre foi assim, o motivo da miséria do homem tem nome, e se chama PECADO! Em Romanos 3.23 o apóstolo Paulo expõe essa realidade: "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (ARA).
Nós frequentemente somos levados a menosprezar os efeitos do que chamamos de queda do homem, ou pecado original, que foi o pecado de Adão. Pois pensamos que se seguirmos a risca um conjunto de padrões morais, ou regras, onde não se deseja o mal de ninguém, não se faz nada que seja considerado errado, e ajudamos a todos quanto podemos ajudar, que isso possa nos garantir o favor de Deus. Não! Pelo contrário, isso demonstra a nossa ignorância quanto a nosso estado já pecador. Esse inclusive era o erro principal cometido pelo grupo religioso judeu chamado de fariseus, motivo pelo qual Jesus certa ocasião os chamou de sepulcros caiados (cf. Mt 23.27). Não foi apenas Adão que caiu diante do pecado, e nem mesmo apenas os homens, mas toda a criação foi afetada por ele, por esse motivo todo o mundo sofre por causa do pecado, para onde se olha se vê as consequências da natureza pecaminosa instalada no mundo por causa da queda do homem, como disse Paulo: "Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação" (Rm 5.18, ARA). Por isso vivemos em um mundo caído: "Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno" (1 Jo 5.19, ARA); e "...No mundo, passais por aflições..." (Jo 16.33b, ARA). Até mesmo o próprio relacionamento do homem com a criação foi abalado pelo pecado: "Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. E a Adão disse: Viste que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás." (Gn 3.14-19, ARA). Então podemos ver claramente que o pecado de Adão não afetou a ele somente, mas a todos nós, e recaiu sobre nós também as suas consequências, dentre as quais, a ausência do relacionamento com o Criador, por isso ao ser confrontado com a visão de Deus: "Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" (Is 6.5, ARA). Ou seja, como disse anteriormente, somos seres caídos, vivendo em um mundo caído, rodeado pelo pecado à nossa volta, e também dentro de nós.
Eis a nossa miséria, a nossa falta de Deus. Eis aí o motivo da misericórdia de Deus por nós, pois Ele percebeu nossa completa incapacidade de tomar a iniciativa da reconciliação com Ele, e também para pedir o perdão pelos nossos pecados de uma maneira que satisfaça a sua lei. Deus não ficou no "discurso", Ele agiu, e sua resposta de misericórdia ao mundo, foi se fazer carne e habitar entre nós, foi sentir na pele as nossas necessidades, dores, aflições, e o preço de nossos pecados. Ele se colocou em nosso lugar, Jesus Cristo, é a MISERICÓRDIA de Deus sobre nós. Devemos ser gratos a misericórdia de Deus sobre nós, pois elas são as causas de não sermos consumidos pela santa ira de Deus em resposta ao pecado que há em nós, mas suas misericórdias se renovam a cada manhã e não tem fim, pois duram para sempre. (cf. Lm 3.22)
Nós somos alvos da misericórdia de Deus, mas Deus nos concedeu também a capacidade de sermos misericordiosos, e Ele quer que o sejamos. 

2 - A misericórdia entre nós

A misericórdia é um dos atributos divinos que Deus compartilha com os homens. Ou seja, Ele nos dotou com a capacidade de amar o próximo e de sentir em nós um pouco da dor do outro. Esse sentimento pode receber outros nomes, como: compaixão, empatia, e etc. E esse sentimento gera, ou pelo menos deveria gerar, em nós, o desejo de fazer algo pelo próximo. E para que a misericórdia seja verdadeira, o desejo que nos toma, que nos invade, deve ser transformado em ações. Foi o que fez Urias ao dormir ao relento, junto aos portões do palácio de Davi, recusando-se a ir para sua casa. No verso 11, do segundo livro do profeta Samuel, capítulo 11, Urias declara ao Rei o porquê não queria ir para sua casa, desfrutar de sua comodidade e da companhia de sua mulher: MISERICÓRDIA! Misericórdia para com o Senhor Deus, pela Arca da Aliança, a manifestação da presença do soberano do universo, que permanecia sob as tendas do tabernáculo. Isso deveria implicar em uma lição direta para Davi, que era rei apenas sobre Israel, e dormia em seus palácios. Misericórdia também, para com os seus companheiros de guerra, pois ele esteve acompanhando de perto o sacrifício de tais homens, que deixavam suas casas, a companhia de suas mulheres, para dormir ao relento e darem suas vidas para a proteção de seu povo, seu rei, e sua terra. E eis exatamente aí uma enorme diferença de atitude entre a misericórdia de Urias e o pecado de Davi, pois enquanto seus soldados não tinham um teto sobre as suas cabeças, Davi estava em seus aposentos reais, e Urias ensina ao rei o que é se compadecer do próximo. Mas o exemplo mais gritante dessa disparidade entre os dois, se dá ao perceber que Urias se recusa a estar com sua mulher, algo que lhe é de direito, por amor e misericórdia de seus companheiros de batalha, suas esposas e famílias, pois o mesmo não se considerava digno de se dar a esse "luxo"; e enquanto isso, nós vemos a Davi, que não apenas já possuia várias mulheres, entre esposas e concubinas, a sua disposição, mas foi se deitar exatamente com a esposa de um de seus soldados. Misericórdia!
Eis o quão perigoso o pecado pode ser, transformando um homem, seus pensamentos, desejos e atitudes. O quão vil Davi se tornou, o quão baixo chegou, eis aí o rei e adorador Davi, adulterando com a esposa de seu súdito, e maquinando contra ele. O rei Davi já estava completamente dominado pelo pecado, suas atitudes de adultério são apenas a execução do que já existia em seu coração, e é exatamente assim que o pecado começa: "Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte." (Tg 1.13-15, ARA). Esse mesmo preceito, a respeito do pecado se inicia bem antes de sua manifestação externa, que são as atitudes consumadas, são ensinados por Jesus Cristo no famoso Sermão do Monte (cf. Mt 5). Naquele momento o rei Davi estava como Caim, antes de tirar a vida de seu irmão Abel, quando o Senhor lhe alertou do que acontecia em seu coração: "...Se todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo." (Gn 4.7b, ARA). Mas não quero me deter olhando para o pecado de Davi, mas para o exemplo de Urias.
Jesus no sermão do monte declarou: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia." (Mt 5.7, ARA), e é da vontade de Deus que, nós, o seu povo, sua igreja, tenhamos misericórdia de nosso próximo: "Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai." (Lc 6.36, ARA). E é este princípio que está embutido no resumo que Jesus faz da Lei em Mateus 22.39, ao dizer: "...Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (ARA). E ainda no livro de Mateus, Jesus reforça a necessidade de manifestarmos misericórdia, pois esta é uma das características do salvo, ele é misericordioso. Portanto Jesus declara: "Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estive nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? e Quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." (Mt 25.34-40, ARA). E aqui está um bom aspecto para se identificar um cristão verdadeiro, pois sua vida é marcada pelo seu espírito misericordioso.
Agora é preciso fazer um alerta à igreja. Muitos imaginam que exercer misericórdia é apenas se mobilizar para satisfazer as necessidade humanas, quanto a fome, vestimenta, saúde e outras tantas que acompanham o escopo de obras sociais da igreja. Mas há um ponto que por muitas vezes nos passa despercebido, e é a gritante necessidade que o homem tem de Deus, sua miséria espiritual. Eis aí um dos maiores pecados que muitos de nós temos cometido como igreja, a omissão: "Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando." (Tg 4.17, ARA). A igreja recebeu a misericórdia de Deus sobre ela, fomos feitos possuidores do antídoto para esse veneno chamado pecado, e enquanto o estado deplorável, escabroso, mórbido, de sofrimento das almas agonizantes nas mãos do diabo não nos causarem dor, vergonha, tristeza, compaixão e misericórdia, não somos dignos de sermos chamados igreja. Enquanto o mal cheiro do pecado não nos causar nojo, do próprio pecado, de nosso estado miserável, e do pecado que nos rodeia, não estaremos dispostos a apresentar, ou mesmo reconhecer, a Cristo e seu sangue purificador. Enquanto a dor do próximo não for a nossa também, não haverá misericórdia para nós. Matar a fome dando-lhe comida é importante, e absolutamente necessário, mas deixá-lo ir embora de estômago cheio e miserável espiritualmente é covardia, uma atitude de hipocrisia. Jesus retrata na famosa parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10.25-37), a hipocrisia do sacerdote e do levita, os religiosos da história contada, mas que ignoram o estado deplorável do caído, passando de largo. O samaritano, resolveu ajudar, sem esperar nada em troca, simplesmente pelo prazer de ver o outro bem, de sentir a dor do outro. Mas atar-lhe as feridas do corpo e deixar sua alma ir para o inferno é condenável, por isso a aplicação de tal parábola é muito mais profunda do que simplesmente tratar as feridas do corpo. Somos atalaias, como declarou o profeta Ezequiel (cf. Ez 33), e é nossa responsabilidade alertar ao pecador sobre sua miséria, sobre sua necessidade de receber a misericórdia de Deus (Jesus Cristo) sobre sua vida, pois esta é a sua ÚNICA saída para sua miséria, e consequentemente, sua saída para a condenação espiritual. Então sejamos misericordiosos, e cumpramos a palavra que diz: "Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram." (Rm 12.15, ARA).

Conclusão: Jesus em duas ocasiões desafia os judeus a entenderem o que de fato significa: "Misericórdia quero e não sacrifícios" (cf. Mt 9.13, 12.7). Estas palavras de Jesus são uma referência direta ao profeta Oséias (Os. 6.6). E o profeta não deixa dúvida alguma sobre o que ele está falando. Oséias se refere a conversões, ou seja, arrependimentos falsos, súplicas e clamores hipócritas, que não passavam de pura encenação para satisfazer nossa própria justiça. E isso é representado pelas figuras dos sacrifícios e holocaustos, que se tratavam de um ritual cerimonial religioso estabelecido na época de Moisés. Mas como todos os demais aspectos cerimoniais da Lei, não tinham um fim em si mesmo, mas eram representações de Cristo e sua obra redentora na cruz, o sacrifício perfeito. Como os sacrifícios e holocaustos eram representações de cerimoniais públicos, eles representavam a real intenção do coração dos hipócritas, serem reconhecidos pelos homens e não por Deus. Jesus esclarece isso na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18.9-14). Portanto, embora eles fossem rigorosos em todos os aspectos referentes aos mínimos detalhes da letra da Lei, seus corações, mentes e línguas ainda destilavam pecado. 
A misericórdia a que o texto se refere, é sentir aquilo que entristece ao Senhor, e colocar nosso coração para buscar sentir o que há em nós que desagrada a Deus, ou seja, é como olhar para um espelho e ver refletido nele a real imagem de nosso estado miserável, e sermos confrontados com o pecado que há em nós, e sentirmos quão grande é a tristeza do Deus santo por nós pecadores. É o que o próprio Davi expressou no Salmo 51, onde ele derrama todo o seu ser na presença de Deus suplicando-lhe o perdão exatamente pelo pecado cometido contra Deus, e contra Urias. E enquanto não confrontarmos nossos pecados, não haverá arrependimento em nós, e enquanto não manifestarmos misericórdia pelo estado pecador de nosso próximo, o caráter de Cristo não está em nós, e não haverá misericórdia para nós. Se você quer saber o que é o inferno, é a total ausência da misericórdia de Deus sobre nós, e o despejar do cálice puro, sem mistura, de sua santa IRA (cf. Ap 14). Que Deus tenha misericórdia de nós, e que nós sejamos misericordiosos!

Pr. Julio Cezar da S. Cindra

Meu lar, um altar! - Deuteronômio 6.4-9

 

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"Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas." (Deuteronômio 6.4-9)
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O mês de Maio é celebrado como o mês da família, uma época em que as igrejas preparam suas programações voltadas especialmente para a família.
A família está em foco, e também está no foco de Satanás. A cada dia que passa vemos estratégias de Satanás, para acabar com a família, se multiplicar. E também vemos o apelo desesperado do mundo, gritando socorro, por suas famílias.
Seja você crente ou não, uma certeza eu tenho, você se preocupa com sua família. Essa é uma preocupação que aflige a todo ser humano. Até o mais cruel e sanguinário bandido almeja um futuro melhor para sua família. Mas os dias tem sido maus, terríveis, e as famílias cristãs, lares cristãos, que outrora foram o exemplo de sucesso familiar em meio ao caos, hoje é só mais uma nesse caos. O que aconteceu? Ou melhor, o que está acontecendo? Vamos buscar por respostas na Palavra daquele que criou a família.

1 - Eu, um sacerdote! (v. 6): Em primeiro lugar, não dá para querer a cura da família sem primeiro buscar a solução para o nosso coração. Você faz parte da sua casa, da sua família, e a primeira pessoa da sua família que precisa do agir de Deus, é você mesmo(a). Deus quer alcançar a sua família, é desejo d'Ele alcançar a sua família, e Ele deseja entrar em sua família, entrando primeiro em seu coração, em sua vida.
A preocupação que possuímos com nossa família nos leva a querer o melhor para ela, e quando procuramos a solução no mundo e não encontramos é que nos lembramos de Deus. Então, ao percebermos que Deus tem respostas concretas para nossa família, decidimos que nossa família precisa de Deus. E então é comum as pessoas tomarem algumas atitudes, como por exemplo:
  • Levar os familiares na igreja;
  • Levar a igreja aos familiares;
  • Ir à igreja pedir pela família.
Estas posições são tomadas de pronto, pois preocupamo-nos com nossa família, então, pedimos orações por ela na igreja; pedimos aos irmãos e ao pastor para falarem com eles; os levamos aos cultos para ouvirem da boca de outros aquilo que deveriam ouvir da nossa. Tomar essas posições não é errado, pelo contrário, é certo. Mas, tomá-las sem primeiro um compromisso pessoal com Deus, não resolve. Antes, se você busca por sua família, mas se desvia da verdade em sua vida, se prepare para encarar essa realidade: "você se torna a desgraça da sua casa!"
A pergunta que precisa ser respondida então, é: E agora? O que fazer? Se você quer o bem para sua família, sua vida precisa ser a porta de entrada para Cristo em sua casa. É isso o que o verso 6 vem trazer, que em primeiro lugar você precisa guardar no teu coração as palavras que foram ordenadas no verso 4 e 5. Muitos não entendem, mas no verso 4 e 5 deste capítulo de Deuteronômio está todo o resumo da Lei, ou seja, a expressão máxima da profissão de fé do judeu. Este texto ficou conhecido pela expressão usada por Moisés para chamar a atenção do povo para esta responsabilidade, quando declara: "Ouça Israel" (do hebraico SHEMÁ ISRAEL).
O Shemá, era um resumo dos 10 mandamentos para o judeu. Sendo uma expressão da Antiga Aliança, alguns cristãos podem pensar que não se aplica mais, quando muito pelo contrário, Jesus reafirma sua importância e ainda lhe acrescenta outras duas observações em um diálogo com um escriba registrado em Marcos 12.28-31. Jesus reafirma a importância do Shemá, tanto para o judeu, quanto para aqueles que recebem a Nova Aliança, os cristãos, em suma, a igreja. E as observações feitas por Cristo são: quando ele acrescenta à forma de amar a Deus, o entendimento; e ainda quando afirma que o segundo mandamento, semelhante ao primeiro, é, o amor ao próximo como a si mesmo.
O que Jesus faz ao resumir os 10 mandamentos em 2, é nada mais do que pegar as duas tábuas da Lei, onde cada uma contém 5 mandamentos, e mostrar aos homens que cada uma das duas tábuas, ou seja, cada grupo de 5 mandamentos compreendem responsabilidades lançadas sobre o homem, onde o primeiro grupo de 5 mandamentos são responsabilidades do homem para com Deus, e o segundo, do homem para com o seu próximo. Simples assim! Ou seja, Jesus está bradando de novo, dessa vez: Shemá Igreja!
Mas voltando a questão de sermos a porta de entrada de Cristo em nossa casa, o texto de Apocalipse 3.20 retrata bem a realidade de Cristo entrar em nossa vida e fazer morada em nós, e, através de nós, entrar em nossa casa. Mesma realidade expressa por Paulo, quando declara ao carcereiro em Atos 16.31, que "crê no Senhor Jesus, e serás salvo tu e tua casa". O que ele quis dizer não é que minha fé salva automaticamente a minha família. Mas minha fé me leva a querer minha família salva, então eu levarei a ela a razão da minha fé e da minha salvação. Eu lhes apresentarei o Jesus que me salvou. É isso, simples assim! E entendendo isso, assumo minha posição como sacerdote do meu lar. 

2 - Minha casa, lugar de adoração! (v. 7): Nós falamos sobre o que busca para o outro mas não para si mesmo. Mas, agora se faz necessário chamar a atenção para o outro extremo: aquele que busca para si mesmo e não se importa com os outros. Meus amados irmãos, as igrejas estão abarrotadas de pessoas vivendo esses dois extremos. Mas esse é o mais pernicioso para todo o evangelho, este é a causa e motivo de escândalo, e este é o que mais se abate sobre as lideranças. Ou seja, a completa indiferença e abandono do altar em casa.
Aquele que busca para si mesmo e ignora o estado deplorável do seu próximo é tão hipócrita como o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano. Quantas vezes estamos tão confortáveis com nossa bíblia debaixo do braço, e nossa roupa bonita indo para os templos, ignorando os cacos ao nosso redor, e o pior, muitas das vezes os pisamos em vez de recolhe-los e apresentá-los ao Senhor. Estamos longe de nos parecer com o bom samaritano. E ainda mais, aquele que se compadece do estranho, mais ignora os de sua própria casa são piores do que o descrente. Essas são as palavras do apóstolo Paulo para o jovem pastor Timóteo, mas também é para toda a igreja (1 Tm 3.4-5; 5.8). Quando Paulo cita isso ele não está se referindo ao mero e simples cuidado no sentido de atenção e proteção, também, mas principalmente no que se refere a razão da sua fé, pois como bem escreveu Tiago (Tg 2.17), a fé e as obras precisam caminhar juntas, pois assim como a fé sem obras é morta, obras sem fé também é!
O texto lido (Dt 6.7) traz à tona uma responsabilidade aos pais e estendida a todos os que são conhecedores da verdade, a necessidade de uma vida diária de adoração e devoção. O lar e a vida cotidiana têm sido, por muitas vezes, ignorados como a nossa maior oportunidade de vitórias espirituais. Vamos fazer uma conta rápida, e para não ser injusto com ninguém, vou tomar a minha própria vida como exemplo. Em uma semana nós temos 168 horas. Em uma semana eu participo, geralmente, de 3 cultos no templo. E cada culto têm aproximadamente a duração de 2 horas. Então, ao longo de uma semana inteira, passo 6 horas no templo. Isso é, aproximadamente, 3% de todo o meu tempo em uma semana, ainda me restando os outros 97%, ou seja, das 168 horas da semana, passo 162 longe do templo. A pergunta que precisamos fazer a nós mesmos é: o que fazemos com o tempo que não estamos no templo? Pois na maior parte do tempo, não estamos no templo! Dentro do templo nós pulamos, cantamos, gritamos, choramos, abraçamos, sorrimos, só falamos palavras doces e agradáveis, a gente ora e lê a bíblia. E quando saímos do templo? Ainda cantamos? Ainda choramos? Ainda abraçamos? Ainda se lê a bíblia? Ainda oramos?
O que vou dizer aos pais se aplica a você que não é pai, nem mãe, mas é o único, ou a única, em sua casa que tem Jesus como Senhor e Salvador de sua vida. A responsabilidade trazida à tona pelo Salmo 127.1 ("Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam") é uma concordância com Provérbios 22.6 ("Ensina a criança, no caminho em que se deve andar, e até quando envelhecer, não se desviará dele"), ou seja, a necessidade de ensinar pelo exemplo. Ensinar pelo exemplo é ir além das palavras, mas ensinar na prática de vida diária, ou então cairíamos no famoso bordão: "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". O chamado aqui é para mostrar na prática como se deve fazer, é preparar a sua casa para encontrares com o seu Deus.
Cumpra o que está escrito no verso 7, transforme sua casa em um altar. Para isso é preciso resgatar a comunhão e a intimidade dentro de casa. Para os judeus o momento de comunhão sagrado dentro da família eram os momentos de refeição, onde a família se sentava e conversava enquanto comiam. Hoje cada um como em um lugar, em um horário, e não há mais diálogo, só há um silêncio, enquanto nossos olhos e ouvidos estão atentos para o que a televisão e a internet tem a dizer,. Tapamos os nossos ouvidos para o grito de socorro de nossa família. Ainda há tempo de agir, faça da sua casa um altar, um lugar onde Deus é adorado todos os dias!

3 - Eu, um sacrifício vivo! (v. 8): Há uma certa relação entre Deuteronômio 6.8 e Apocalipse 13.16. Ambos falam a respeito de coisas que estarão nas mãos e nas testas. Sendo que o texto de Deuteronômio fala de carregar nas mãos e nas testas os mandamentos de Deus, enquanto, que, Apocalipse menciona que estarão nas mãos e nas testas a marca da besta.
São marcas distintas, mas a interpretação é semelhante para as figuras usadas para simbolizar onde estas marcas estarão. De uma forma bem simples, a mão são as atitudes, enquanto que a testa, os pensamentos. Ou seja, a marca da besta em Apocalipse não é um chip, uma tatuagem ou qualquer desses boatos espalhados por aí, na verdade ela já está entre nós há muito tempo, e enquanto nos iludimos com falácias, ignoramos que a marca da besta nada mais é, do que a manifestação da vontade da besta nos pensamentos e atitudes. Essa mesma análise pode ser aplicada aos mandamentos nas mãos e na testa, ou seja, isso simboliza a vida daqueles que realizam a vontade de Deus, em suas atitudes e pensamentos. Como já mostrava o Salmo 1.2 (O que medita de dia e de noite), ou o Salmo 119.11.
Malaquias 3.18, retrata esse contraste, quando se refere a como Deus evidenciará a diferença entre os justos e os perversos no grande dia, através de suas ações, mas também através de suas sentenças.
O grande ponto deste versículo é que, o resultado de uma vida devocional, será o testemunho vivo e sacrifício vivo, que agrada a Deus (Rm 12,1). Ou seja, tudo em nós glorificará o nome do Senhor, tanto nossas ações, quanto nossos pensamentos.

4 - Meu lar, local de testemunho! (v. 9): O resultado de uma casa alicerçada, é que esta se tornará uma referência, e quando as pessoas olharem para a vida das famílias que colocarem estes princípios em práticam elas enxergarão a mão de Deus sobre aquela família. Tanto os que olharem da rua (aqueles que não possuem intimidade com vocês), quanto os que olharem de dentro (os que convivem com vocês). Essa é a representação do ato de escrever na porta e no umbral, é como se dissessem: "olhem para minha casa e lembrem-se de Deus e dos seus mandamentos". Como sugestão, trago um acréscimo ao ponto 2, é preciso resgatar aquilo que chamávamos de culto doméstico.

Conclusão:

Estas palavras muito me ensinaram, mas como Jesus disse ao encerrar o sermão da montanha, não adianta ouvir e não colocar em prática. Jesus usou a ilustração do homem construindo uma casa: o que ouviu e não praticou, construiu sobre a areia, e a sua casa ruiu; mas, o que ouviu e praticou, construiu sobre a rocha, e a sua casa se tornou inabalável.
A questão é que a solução para sua família está posta diante de você através da palavra de Deus. É como o doente que procura o médico e este lhe fornece o remédio para curá-lo, mas o doente leva o remédio para casa, mas não o toma. Ele continuará doente. Então cabe a você decidir por isso em prática em seu lar, ou não. Mas fico com Josué, e faço minhas as suas palavras, "porém eu e minha casa, serviremos ao Senhor!" (Josué 24.15).

Pr. Julio Cezar da S. Cindra

Livres da lepra espiritual! - 1 Coríntios 5

 

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"Agora estão dizendo que há entre vocês uma imoralidade sexual tão grande, que nem mesmo os pagãos seriam capazes de praticar. Fiquei sabendo que certo homem está tendo relações com a própria madrasta! Como é que vocês podem estar tão orgulhosos? Pelo contrário, vocês deviam ficar muito tristes e expulsar do meio de vocês quem está fazendo uma coisa dessas. Quanto a mim, ainda que não esteja presente aí pessoalmente, estou com vocês em espírito. E, agindo como se eu estivesse aí, já julguei, pela autoridade do nosso Senhor Jesus, o homem que está fazendo essa coisa horrível. Quando vocês se reunirem, estarei com vocês em espírito. Então, pelo poder do nosso Senhor Jesus, que estará presente conosco, entreguem esse homem a Satanás, para que o seu corpo seja destruído, mas o seu espírito seja salvo no Dia do Senhor. Não está certo que vocês estejam orgulhosos! Vocês conhecem aquele ditado: 'Um pouco de fermento fermenta toda a massa.' Joguem fora o velho fermento do pecado para ficarem completamente puros. Aí vocês serão como massa nova e sem fermento, como vocês, de fato, já são. Porque a nossa Festa da Páscoa está pronta, agora que Cristo, o nosso Cordeiro da Páscoa, já foi oferecido em sacrifício. Então vamos comemorar a nossa Páscoa, não com o pão que leva fermento, o fermento velho do pecado e da imoralidade, mas com o pão sem fermento, o pão da pureza e da verdade. Na outra carta que escrevi a vocês, eu recomendei que vocês não tivessem nada a ver com gente imoral. Eu não quis dizer que neste mundo vocês devem ficar separados dos pagãos que são imorais, avarentos, ladrões ou que adoram ídolos. Pois, para evitar essas pessoas, vocês teriam de sair deste mundo. O que eu digo é que vocês não devem ter nada a ver com ninguém que se diz irmão na fé, mas é imoral, ou avarento, ou adora a ídolos, ou é bêbado, ou difamador, ou ladrão. Com gente assim vocês não devem nem comer uma refeição. Afinal de contas eu não tenho o direito de julgar os que não são cristãos. Deus os julgará. Mas será que vocês não devem julgar os seus irmãos na fé? Como dizem as Escrituras Sagradas: 'Expulsem do meio de vocês esse homem imoral.'" (1Coríntios 5)
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Esses dias estava lendo um estudo bíblico do Pr. David Merkh sobre o texto que nós lemos. Eu sei que a figura que salta aos nossos olhos é a do fermento, mas o pastor chamou a atenção para algo que ele deu o nome de "lepra espiritual". E é interessante observar isso, pois a figura da lepra é mencionada constantemente na bíblia, e na grande maioria das vezes está relacionada ao pecado. E é exatamente sobre essa comparação que vamos meditar neste momento, assim como Jesus se utilizava de circunstâncias físicas para explicar as espirituais, vamos nós, também, olhar para o pecado, a "lepra espiritual".

1- O que é a lepra? A palavra lepra (do hebraico TSARA'ATH) é mencionada constantemente na bíblia, sempre para designar doenças que atingiam a pele. Mas nunca se referia a um tipo específico de doença, mas sim a vários tipos de doenças assim. Embora, sempre traziam consigo uma conotação negativa no aspecto social, pois o leproso era afastado do convívio em sociedade. Hoje com o avançar da ciência já é possível diagnosticar precisamente o tipo de enfermidade na pele, e o nome genérico, lepra, foi abandonado. O tipo mais comum destas doenças ganhou o nome de Hanseníase, ela e as demais são provocadas pelo bacilo de Hansen (uma espécie de bactéria), infecciosa e que causa danos severos a nervos e a pele. Mas o que esse tipo de enfermidade tem a ver com o pecado? Muita coisa. Vejamos alguns pontos:

1.1 - Oculta: A lepra pode permanecer anos (de 2 a 7) escondida no organismo de uma pessoa até se manifestar, ou seja, até aparecer os primeiros sintomas. O pecado é assim também, se esconde no coração e na mente, e pode permanecer anos escondido em nós até demonstrar seus sintomas (ver Gálatas 5). Por isso a necessidade de vigilância. Tiago já havia escrito isso em sua epístola, ao dizer que "... havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1.15). Ou seja, o pecado, da sua concepção até a consumação (nascimento) leva tempo se desenvolvendo dentro de nosso ser, sendo lentamente alimentado pelos nossos desejos carnais, assim como a criança no ventre é alimentada pelo cordão umbilical. Jesus já havia nos alertado sobre isso no seu sermão conhecido como o sermão do monte, ao dizer que "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno." (Mateus 5.17-30). Jesus mais uma vez se utiliza de hipérbole (exagero) para ilustrar a questão do pecado, Ele não quis dizer literalmente que devemos sair por aí arrancando nossos olhos, mas que o que deixamos entrar por eles alimenta o pecado que deve ser arrancado, ou seja, você deve parar de deixar entrar pelos seus olhos isso que tem nutrido seus desejos carnais. Se o pecado não for alimentado ele morre de fome e é abortado antes de nascer (ser consumado). 

1.2 - Contagiosa: A lepra é uma doença contagiosa, ou seja, pode ser transmitida de um para o outro pela proximidade, contato, utensílios compartilhados e pela convivência. Assim a recomendação bíblica era o isolamento e afastamento do meio do arraial (Levítico 13.46). O Salmo 1, transmite um conselho aos que querem ser felizes, se afastar do caminho dos pecadores, dos conselhos dos ímpios, e da roda dos escarnecedores. Obviamente alguém pode pensar que de fato devemos nos afastar completamente do mundo, mas ao olhar atentamente o restante de 1 Coríntios 5, Paulo deixa claro, que os pecadores que precisam ser evitados não são os de fora, mas aqueles que se dizem "irmãos na fé" e cometem pecados tais. Estes são o fermento que leveda toda a massa, estes são os leprosos contagiosos. O fato desta doença ser contagiosa era o motivo pelo qual os leprosos eram afastados de suas casas e levados para um local isolado. Na época a lepra era tida como uma doença incurável, mas hoje já existem tratamentos capazes de curá-la. Assim os pecadores que se dizem "irmãos" é que precisam de tratamento especializado, mas o remédio é o mesmo para todos os pecadores, um bom mergulho (batismo) no sangue de Jesus. É isso o que representa a história de Naamã. O "batismo" de Naamã no rio Jordão é o que em Teologia chamamos de tipo. [Diferente de símbolo ou alegoria, o tipo é uma representação e uma referência histórica concreta. De acordo com a exegese cristã, a tipologia bíblica trata dos paralelos entre figuras ou fatos históricos (em geral do Antigo Testamento) concernentes ao plano de SALVAÇÃO e seu cumprimento posterior. Não raro, os fatos e as figuras do Novo Testamento são interpretados tipologicamente de acordo com um padrão do Antigo Testamento (Por exemplo, criação e nova criação, Adão e Cristo, o êxodo e os conceitos de salvação do Novo Testamento)]. [1] Assim o batismo [que significa tanto imergir, quanto derramar, daí vem as divergências sobre se o batismo deve ser por imersão (mergulhar totalmente o corpo), por aspersão (borrifar água sobre a pessoa) ou por efusão (derramar água somente sobre a cabeça)] de Naamã tem uma representação do que acontece no batismo com sangue. A forma como se deu, ele mergulhou sete vezes, indica aqui um padrão mais elevado para o batismo, mais do que molhar uma parte apenas do corpo, ou apenas borrifar água sobre si, mas deixar seu corpo totalmente envolto pelas águas, isso é uma tipologia imediata de como o sangue de Cristo age na vida do crente, somos mergulhados neste sangue (espiritualmente falando), completamente envoltos nele. O número de vezes que Naamã mergulha também é uma representação a isso. Naamã mergulhou 7 vezes. [O número 7 tem uma representação especial na bíblia, como um símbolo de coisas perfeitas, assim como o sétimo dia da criação, o dia da perfeição dela; a aliança perpétua feita com Noé simbolizada através de um arco no céu contendo 7 cores; a quantidade de vezes que se deve perdoar 70x7 (entenda-se isso não como uma conta, em que se deve perdoar apenas 499 vezes, mas sim como uma hipérbole, um exagero, pois se 7 já é perfeito, 70x7 é sublime, ou seja um perdão real, sincero e verdadeiro)] assim os 7 mergulhos de Naamã simbolizavam a perfeição daquele ato praticado por ele, provocando assim a cura de sua lepra, mas para o crente ser limpo dos seus pecados um único mergulho no sangue de Jesus é suficiente.

1.3 - Indolor: A pior semelhança é essa. A lepra ataca os nervos fazendo com que a pessoa perca progressivamente a sensibilidade à temperatura, ao toque, e até à dor. O pecado também, se não for tratado, te deixa completamente insensível a voz, a presença, e ao temor a Deus. São pessoas que praticamente não tem consciência e discernimento espiritual, estão mortas espiritualmente, assim como a pessoa descrita por Paulo, que continuava na prática do seu pecado, sem arrependimento, sem mudança, sem temor a Deus. Crente leproso é fácil de ser diagnosticado neste ponto, pois o crente que não chora pelo pecado, que não sente dor ao pecar, é porque está completamente insensível por causa do pecado. "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados" (Mateus 5.4), disse Jesus. Mas esses felizes por que choram não é tão simples quanto parece. Temos, muitas das vezes, a impressão que este texto é muito simples, e todos os que choram, seja pelo motivo que for, serão consolados. Assim chore a vontade, você será consolado. Será? Não é bem assim, Cristo não está falando que consolará quem chorar pelo fim da novela, ou pelo fim de um namoro, mas é só olhar o contexto que você vai entender. Jesus está sentado anunciando uma mensagem a um povo que é feliz por fazer a vontade de Deus, e esses são os felizes porque choram, os que choram de dor ao pecar contra Deus, os que choram pelas almas perdidas, esses serão consolados pelo Consolador (Espírito Santo). Foi esse o choro de Davi no Salmo 51: "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares." (Salmos 51.1-4). Foi esse o choro do filho pródigo ao voltar pra casa de seu pai: "E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho." (Lucas 19.41-44). O crente que está livre da lepra espiritual, ele pode até pecar, mas ele abomina o pecado, ele chora, ele sente dor, ele se sente indigno, ele implora por perdão e se arrepende, demonstrando os frutos do seu arrependimento. Como está escrito: "Aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente; porque a semente de Deus permanece nele, e não pode continuar no pecado, porque é nascido de Deus." (1 João 3.9); e "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca." (1 João 5.18). Mas fica o alerta de Pedro: "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro. Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. Deste modo sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro; Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal". (2 Pedro 2.20-22).

Conclusão:

Se você observar atentamente os personagens bíblicos que foram acometidos por lepra (Miriã, Geazi, Uzias, etc.) e os que foram curados (Miriã, Naamã, Uzias, etc.), você perceberá que a similaridade dos sintomas da lepra e do pecado é grande. Mas como disse anteriormente a solução é uma só, o sangue de Jesus. "...mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo o pecado. Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça". (1 João 1.7-9).

Referência: [1] - Dicionário de Teologia: Edição de bolso. Editora Vida, 2007

Pr. Julio Cezar da S. Cindra

A Igreja, Corpo de Cristo - Efésios 1.22-23

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E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. (Efésios 1.22-23)
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O apóstolo Paulo usa uma figura muito comum a todas as pessoas para entendermos o relacionamento entre Cristo e a Igreja. Essa figura é a cabeça e o corpo. Jesus sempre buscou maneiras simples de explicar as coisas espirituais aos homens, pra isso ele usava as parábolas, que eram histórias do dia a dia, mas que traziam por trás um sentido espiritual. O apóstolo Paulo também usa desta ferramenta para explicar as coisas espirituais aos homens carnais pois como ele mesmo afirma, em 1 Coríntios 2.14, o homem natural não compreende as coisas do espírito. Por isso ele utiliza a cabeça e o corpo como símbolos do relacionamento entre Cristo e a Igreja. Mas hoje quero focar principalmente no corpo, pois todos já conhecemos os atributos da cabeça, mas todo corpo tem como processo natural 5 passos. Da mesma forma a Igreja como o corpo espiritual de Cristo deve cumprir 5 passos. São eles:

1 - Nascer (João 3.5-7)

A primeira regra da vida é que para ter um corpo, ser alguém, é necessário nascer. Daí pode surgir uma dúvida, a igreja, quando ela nasceu? No coração de Deus a igreja sempre existiu, pois a cabeça e o corpo compõem o mesmo indivíduo. E Cristo sempre existiu (Jo 1.1-3). Então a cabeça da Igreja, ou seja, a cabeça deste corpo sempre existiu. Embora seus membros fossem ganhando forma com o passar dos tempos.
Nós sabemos o que é necessário para um ser humano nascer, mas ele nasce fisicamente. Era pra todos já serem parte deste corpo desde o inicio, mas o pecado nos matou (separação) espiritualmente. Por isso nasce o corpo, mas é necessário que nasça o espírito. Quando estiveres ligado a Cristo, como seu Senhor e Salvador, nascerá espiritualmente e fará parte deste corpo chamado Igreja.

2 - Crescer (Efésios 4.15-16)

Todo corpo quando nasce necessita desenvolver, pois ninguém espera ser bebê a vida toda, nem ser criança a vida toda, nem adolescente a vida toda. O crescimento é algo natural no corpo físico, algo que esta sujeito única e exclusivamente ao tempo. Mas não é assim no corpo espiritual, para haver crescimento no corpo espiritual não basta esperar o tempo passar, é necessário se aprofundar em buscar e conhecer a Deus.
Mas todos os pais sabem que um desenvolvimento saudável depende de uma alimentação saudável, da mesma forma acontece no desenvolvimento espiritual (Hb 5.13).
Outra coisa que ajuda em um crescimento saudável é a higiene, como tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos, para nos limparmos de bactérias e sujeiras que podem causar doenças. A higiene espiritual é muito importante, para nos limpar do pecado (Ef 5.25b-26).

3 - Multiplicar (Mateus 28.19)

Todo corpo sente o desejo de se multiplicar, além de ser uma ordem divina dada a Adão e Eva e depois a Noé e sua família, é algo que todo ser humano carrega dentro de si. Embora muitos não tenham ou não desejem se multiplicar, é impossível que seus corpos nunca o desejassem. 
Cristo deu uma ordem a igreja: fazer discípulos. O interessante é que a multiplicação se torna algo natural após o crescimento, após a puberdade tanto menino, quanto menina já tem seus corpos aptos à multiplicação. Podemos observar este mesmo fenômeno na natureza e nos animais.
Na igreja entretanto vemos o efeito contrário, os membros nascem e multiplicam, e quando crescem que deveriam multiplicar mais ainda, param de multiplicar-se, é o chamado esfriamento do primeiro amor. Outros no entanto sempre retardam a multiplicação dizendo que "não é hora", "ainda não chegou o tempo", para esses sinto informar, mas na vida espiritual o tempos de multiplicar é a todo momento como disse Jesus (Mc 11.13-14 e 20).
Se não temos multiplicado somos estéreis espiritualmente, e um corpo que não multiplica, não tem valor. Só pode ser duas coisas: ou são corpos estéreis, ou estão desligados da cabeça, estão mortos espiritualmente.

4 - Amadurecer (Efésios 4.11-14)

O tempo traz o envelhecimento, mas não estou me referindo ao desgaste físico provocado pelo tempo. O termo mais apropriado é amadurecimento, pois a maturidade nada tem a ver com cabelos brancos e rugas, mas sim com experiência, experiência de quem já enfrentou muitas batalhas e já está calejado, ao ponto de não se assustar facilmente diante de novos desafios, e é capaz de resolver problemas com paciência e tranquilidade. Maturidade para aconselhar os inexperientes que se assustam e se desesperam com tudo.
Assim como na vida física, a maturidade espiritual vem através de lutas e batalhas e não com o simples passar do tempo. Paulo afirma isso (Rm 5.1-5). A coisa mais rara é ver crentes maduros hoje em dia. Lembrando que maturidade espiritual nada tem a ver com idade, e sim com vida com Deus.

5 - Morte (Gn 3.19)

Todos nós sabemos que o salário do pecado é a morte, e que todo corpo tem como caminho natural nascer, crescer, multiplicar, envelhecer, e morrer. A morte física é uma realidade para todos, sendo igreja ou não (Hb 9.27), mas a morte espiritual não faz parte da realidade da igreja de Cristo (Jo 11.25-26). Mas cremos não apenas na vida espiritual, mas na ressurreição dos corpos antes físicos, agora glorificados (1 Co 15.35;42-44). Cremos em uma vida eterna ligados em Cristo.

Conclusão:

Pra tudo isso acontecer na tua vida é necessário que você esteja ligado em Cristo. Se faça essas perguntas: Eu já nasci de novo? Estou crescendo na fé ou ainda sou bebê espiritual? Como está meu alimento espiritual e minha higiene espiritual? Eu tenho multiplicado ou será que sou estéril espiritual? Posso dizer que alcancei maturidade espiritual? E por fim, estou pronto pra partir? Terei uma vida eterna ao lado de Cristo? Viva uma vida espiritual, lembre-se você é a igreja, você é membro do corpo de Cristo, se estiveres ligado a cabeça, nunca morrerá, pois Cristo vive e reina eternamente, e como corpo viveremos e reinaremos com Ele. Tá ligado irmão? (Ap 22.5)

Pr. Julio Cezar da S. Cindra 


Estudos teológicos - A tarefa missionária em meio às diferenças culturais

A tarefa missionária em meio às diferenças culturais

Jesus Cristo veio ao mundo, morreu, ao terceiro dia ressuscitou e subiu ao céu deixando a promessa que um dia voltaria do mesmo modo como subiu. Mas antes de subir deixou uma ordem expressa nos evangelhos chamados sinóticos: "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo." (Mt 28.19); "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura." (Mc 16.15); "[...] e em meu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações começando por Jerusalém." (Lc 24.47). Esta ordem também está presente no livro de Atos dos Apóstolos: "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra." (At 1.8).
Eis aí a maravilha e o desafio do cristianismo. Como cumprir esta ordem levando o evangelho, a Palavra de Deus, até os confins da terra? Como apresentar Jesus a outras culturas, povos, línguas e nações? Como comunicar a verdade sem deixá-la perder a sua essência? Este é o maior desafio daqueles que se dispõem a cumprir esta ordem deixada por Cristo.

Primeiros passos

Todo missionário antes de pregar o evangelho em uma cultura que lhe é estranha precisa aprender, ou seja, conhecer sobre a cultura onde ele irá trabalhar. Sobre isso o Rev. Gildásio Reis afirma:
Dificilmente uma pessoa poderá sentir as dificuldades do trabalho missionário a menos que esteja envolvida ativamente neste campo. Tais dificuldades parecem ser maiores quando o trabalho missionário se dá em uma outra cultura que não a do missionário. As diferenças culturais e as surpresas são incalculáveis. De maneira nenhuma, o missionário pode comunicar bem o evangelho, se ele desconhecer a cultura das pessoas que irão ouvi-lo.(1)
Logo, o primeiro passo para qualquer pessoa que esteja envolvida no trabalho missionário, em outra cultura, é conhecer essa cultura para que possa transmitir a mensagem de forma clara para que as pessoas possam entender. Pois falta de sensibilidade por parte do missionário pode tornar essa tarefa, além de difícil, improdutiva. Sobre isso Bruce Niholls afirma o seguinte:
Os comunicadores evangélicos frequentemente subestimam a importância dos fatores culturais na comunicação. Alguns se preocupam tanto com a preservação da pureza e das suas formulações doutrinárias que tem sido insensíveis aos padrões de pensamento e comportamento culturais das pessoas às quais proclamam o evangelho.(2) 
A importância de se transmitir algo que se entenda é fundamental, até porque "comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende. Se o outro não está entendendo, você não está comunicando direito." (3). E isso quando se dá em outra cultura é muito mais difícil. Pois se nós muitas vezes já temos dificuldade de nos entendermos dentro de uma mesma cultura que nos é familiar, imagina ter de enfrentar as barreiras de comunicação que são impostas por uma cultura estranha. O Rev. Gildásio fala que:
É inquestionavelmente e universalmente aceitos entre os missiólogos e missionários, que é praticamente impossível comunicar o evangelho de maneira que faça sentido em circunstâncias transculturais sem que seus comunicadores conheçam a cultura daqueles que eles desejam alcançar.(4)  
Parece uma besteira se preocupar em aprender o que o outro entende como certo e errado, como morte e vida, como Deus. Mas é fundamental para que a palavra, ou seja, a semente lançada caia em boa terra e dê frutos. Para tal precisamos entender o que é cultura.

A cultura

"Conjunto de comportamentos e ideias característicos de um povo, que se transmite de uma geração a outra  e que resulta da socialização e aculturação verificadas no decorrer da sua história." (5) Ou também "[...] um sistema integrado de padrões comportamentais aprendidos, compartilhados e transmitidos de geração em geração, que distinguem as características de uma determinada sociedade." (6)
Essas ideias apresentadas sobre cultura de um povo, ou seja, o aglomerado de tudo aquilo que é caraterística intrínseca de um povo que vem de gerações, e é natural: como língua, modo de vestir, noções de moral e ética, crenças; faz-nos entender que muitas vezes o que é certo para um não é para o outro. E assim como os valores morais mudam, os valores de crenças também. Pois o que é pecado para um, para outro não é. O conceito sobre Deus, céu, inferno, morte e salvação são diferentes também. Não é só a barreira da língua que precisa ser vencida, mas também a da compreensão.

Colocando em prática

Agora que sabemos o que é a cultura de um povo, e que para comunicar o evangelho em uma cultura diferente o missionário precisa conhecer essa cultura, fica a questão depois de conhecer a cultura. O que fazer? Como colocar em prática? Como contextualizar a mensagem de uma forma coerente?
O Pr. Ebenézer Bittencourt no DVD Quebra de Paradigmas, diz: "Nós precisamos aceitar o desafio de adaptar métodos [...] o evangelho é inegociável. [...] Mas nós temos que ter sensibilidade cultural." (7) Ou seja, não existem regras que determinem métodos de como comunicar o evangelho. O que deve nortear o missionário quanto a métodos é a sensibilidade cultural. A única exigência inegociável é a essência do evangelho. Logo, o missionário pode e deve alterar o método quando necessário, mas nunca abrir mão da essência das escrituras, tendo em mente sempre de que ele é apenas um simples mensageiro, uma fonte secundária, nunca uma fonte primária.
Sobre as estratégias de evangelização o pacto de Lausane diz o seguinte:
O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a benção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas escrituras. [...] O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissa aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; para a glória de Deus.(8)
Uma das coisas que atrapalham o desenvolvimento do trabalho missionário em outra cultura é exatamente o fato de o missionário tentar infiltrar a sua própria cultura na cultura aonde ele foi inserido, e que lhe é estranha. Ronaldo Lidório comenta o seguinte:
Olhando as frentes missionárias despreocupadas com a contextualização encontraremos, abundantemente, templos de cimento para culturas de barro, pianos de cauda para povos dos tambores, terno e gravata para os de túnica e turbante, sermões lineares para pensamentos cíclicos, sapatos engraxados para pés descalços. Tão ocupados em exportar nossa cultura nos esquecemos de apresentar-lhes Jesus, Deus encarnado, totalmente contextualizado, luz do mundo.(9)  
Na Bíblia nós temos um exemplo clássico do jeito correto de se contextualizar o evangelho para uma outra cultura, e o nome desse exemplo é "Paulo". O apóstolo Paulo viajou para diversos lugares, se deparando com diversas culturas, línguas e crenças totalmente diferentes da cultura que lhe era a de origem. Mas soube como ninguém conhecer a cultura onde estava inserido e trazer mensagem de forma clara e contextualizada para aquela cultura, como no caso magistral de seu discurso no areópago, onde utilizou da própria cultura grega, inclusive citando poetas gregos como forma de demonstrar conhecimento daquela cultura, para anunciar o evangelho.
Um exemplo errado que temos na Bíblia é o caso de alguns cristãos judeus, que queriam a todo custo que os gentios que se convertessem ao cristianismo fossem circuncidados como mandava a lei mosaica. O apóstolo Pedro precisou de uma visão do céu para entender que estava fazendo da forma errada.
Mas fica claro que este é um grande desafio de nossos dias. A tarefa de anunciar o evangelho de forma que o outro entenda sem deturpar a mensagem e evitar o efeito "telefone sem fio", onde a mensagem começa certa, mas termina errada.
O Pr. Ebenézer Bittencourt conta que um missionário que trabalhava com os índios de um tribo brasileira, ao lhes falar sobre João 3.16, eles não entendiam, porque quando chegava a parte do perecer, ou seja, morrer, eles não entendiam. Pois na cultura deles morrer era algo bom, pois eles acreditavam que se transformariam em outra coisa. Diante dessa barreira o missionário pensou como traduzir aquilo de uma maneira que eles entendam e que não ferisse o sentido da mensagem. E ao observar aquela cultura notou que para eles a coisa mais imunda e ultrajante que eles repudiavam era uma banana podre. A partir daí aquele missionário disse a eles: "Que Deus mandou seu filho ao mundo para que todo aquele que nele crer, não vire uma banana podre [...]", a tribo entendeu, mas aquele missionário se mostrou preocupado, pois sabia que ninguém entenderia o dilema que ele viveu.(10)
Não existe uma fórmula pronta de como fazer, o que deve prevalecer nessa tarefa missionária é o bom senso do missionário, tanto para a cultura onde ele está inserido, como para com a essência da mensagem bíblica.

Citações:

(1) - Apostila de Missiologia, p. 27.
(2) - Apostila de Missiologia, p. 27.
(3) - DVD Quebra de Paradigmas na Comunicação, Pr. Ebenézer Bittencourt.
(4) - Apostila de Missiologia, p. 27.
(5) - Apostila de Missiologia, p. 32.
(6) - Apostila de Missiologia, p. 32.
(7) - DVD Quebra de Paradigmas na Comunicação, Pr. Ebenézer Bittencourt.
(8) - Apostila de Missiologia, p. 32.
(9) - LIDÓRIO, Ronaldo. A teologia bíblica da contextualização (contextualização missionária), p. 32, 33.
(10) - DVD Quebra de Paradigmas na Comunicação, Pr. Ebenézer Bittencourt.

Referências bibliográficas:

Apostila de Missiologia. Disponível em: <http://www.seminariojmc.br/datafiles/documentos/Apostila%20de%20Missiologia%20JMC%202006b.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2012

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e corrigida no Brasil. São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

BURNS, Bárbara Helen (Ed.). Contextualização missionária: desafios, questões e diretrizes. São Paulo, Vida Nova, 2011.

QUEBRA DE PARADIGMAS na comunicação. Produação: Instituto Haggai. São Paulo: Haggai, 2008. (90 min), DVD.

(Pr. Julio Cezar da Silva Cindra)

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